Prudência

07/03/2016 09:11

                                                As  VIRTUDES

A Prudência:

 

A polidez é a origem das virtudes, a fidelidade é o seu princípio e a prudência sua condição.

A tradição afirma que a prudência é uma das quatro virtudes cardeais da Antigüidade e da Idade Média. Nos dias de hoje a prudência é uma das mais esquecidas virtudes a serem aplicadas em nossa sociedade, pois os modernos afirmam que ela pertence menos à moral do que à psicologia, menos ao dever do que ao cálculo.

A prudência é vantajosa demais para ser moral e o dever absoluto demais para ser prudente.

            A ética da responsabilidade quer que respondamos não apenas por nossas intenções ou  nossos princípios, mas também pelas consequências de nossos atos, tanto  quanto possamos prevê-las. É uma ética da prudência e a única ética válida. Melhor é mentir à Gestapo do que entregar um judeu ou um resistente.

As outras virtudes, sem a prudência não poderiam mais que revestir o inferno com suas boas intenções.

            Os estoicos consideravam a prudência uma ciência, “a ciência das coisas a fazer e a não fazer”, diziam eles.

            Aristóteles dizia que a virtude não basta mais para a felicidade do que a felicidade à virtude. A prudência é porém necessária  tanto para a felicidade como para as virtudes e  a própria sabedoria  não poderia prescindir  dela.      Continuando,

“não é possível ser homem de bem sem a prudência, nem prudente  sem virtude  moral. A prudência não basta à virtude, mas nenhuma virtude poderia prescindir da prudência.   

            A prudência sempre leva em conta o futuro, na medida que depende de nós a encará-lo. O homem prudente é atento, não apenas ao que está acontecendo mais ao que poderá acontecer; é atento, presta atenção e segue a escolher o melhor caminho para um melhor resultado. Prudentia, observava Cícero, vem de providere, que significa tanto prover como  prever.

A prudência é o que separa a ação do impulso, no fundo é o que Freud  chamará de princípio da realidade ou pelo menos a virtude que lhe corresponde, tratando-se de desfrutar o mais possível e de sofrer o menos possível, pois a prudência é o que determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar. A prudência não é nem o medo e nem a covardia. Sem a coragem ela seria apenas pusilânime, assim como a coragem, sem ela, seria apenas temeridade ou loucura.

            A prudência, dizia Santo Agostinho, são as escolhas sempre para melhor, pois é o amor que escolhe com sagacidade, pois o amor guia a humanidade e a prudência as ilumina.

Enganar-se-ia quem acreditasse a prudência superada; ela é a mais moderna de nossas virtudes e para a modernidade a mais necessária.

Já Spinoza afirmava que Cuidado é a máxima da prudência  e é preciso ter cuidado com a moral também , quando ela despreza seus limites e suas incertezas.

A boa vontade não é uma garantia, nem a boa consciência  uma desculpa. Em suma, a moral não basta à virtude, são necessárias também a inteligência e a lucidez. É o que o humor recorda e a prudência prescreve.

            É imprudente ouvir apenas a moral e é imoral ser imprudente

Como todas as virtudes inerentes á alma humana, a prudência contribui para o nosso bem estar e facilita nossas relações com os outros. Sabemos perfeitamente que a vida é feita de imprevistos que retardam algumas consecuções ou geram contratempos que independem de nossa vontade pessoal, porém quando refletimos prudentemente e analisando os fatos presentes, consequentemente teremos um melhor caminho a seguir. Desta forma, estamos garantindo um futuro estruturalmente mais seguro e feliz.

A prudência sem dúvida alguma é a estrutura inerente as outras virtudes.

Vera De Barcellos

(Consulta no  “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” de André Sponville e “O ideal Ético dos Rosacruzes” de Serge Toussaint.)